Flash Crash, Morgan Housel, Adam Tooze sobre Vietnã, Bolhas, Black Mirror.
links, imagens, memes, leituras por Beto Saadia.
A semana registrou as maiores variações do mercado americano dos últimos 50 anos.
Cheguei a São Paulo nesta semana para mais uma edição do Encontro com Especialistas. A apresentação seria a mesma da edição anterior, mas, diante da confusão tarifária provocada pelo presidente Trump, me vi obrigado a abordar o tema e refiz todo o conteúdo na própria manhã do evento.
O mercado mudou — e faz tempo. Tentei mostrar como o mercado americano está cada vez mais suscetível a crashes relâmpago.
Alguns dos maiores movimentos recentes começaram no X (antigo Twitter).
O colapso do Silicon Valley Bank (SVB) teria ocorrido sem o X?
Os squeezes de GameStop e AMC teriam acontecido sem o Reddit?
As causas para essa mudança na microestrutura do mercado são diversas:
1.Investimentos sistemáticos;
2.Investimentos passivos (ETFs);
3.Internet;
4.A fórmula do S&P resulta em concentração
5.Outros (PFOF - payment for order flow, Derivativos).
Não surpreende que ativos tradicionalmente considerados seguros, como ouro e cripto, tenham cedido. Em crises, as pessoas não correm para "ativos seguros" — elas correm para liquidez, para dinheiro em caixa! É o efeito sell everything — liquidação total. Se ouro e cripto hoje fazem parte da carteira típica do investidor americano, é natural que sejam usados como garantia em operações alavancadas e, portanto, vendidos diante de um margin call.
Uma carteira diversificada é a melhor estratégia que você pode ter — mas ela não é imune a movimentos de aversão ao risco. E está tudo bem, faz parte. A diversificação não é tão eficiente em crises agudas e repentinas, porque ativos que antes eram descorrelacionados tendem a cair juntos.
Quando a crise chega, a diversificação já cumpriu seu papel principal: impedir que o “excepcionalismo americano” fizesse você encher a carteira de techs e criptos, como se a alta fosse eterna.
E o Brasil nisso?
Todos conhecem a frase: “Quando os EUA espirram, os emergentes pegam pneumonia.” É uma metáfora popular que ilustra a dependência econômica dos países emergentes em relação aos EUA.
Pois bem, no início da semana, a imprensa apelidou a segunda-feira (7 de abril) de “Orange Monday” — uma analogia sem criatividade à Black Monday. Mas, enquanto escrevo este texto, a bolsa ainda acumula alta de 6,1% no ano, e o dólar caiu cerca de 5,21%.
A metáfora do espirro, por ora, encontrou um sistema imune forte por aqui. É uma crise mais fácil de digerir para o brasileiro.
Leituras
Decidir manter a carteira inalterada não é o oposto de agir; é uma ação em si. A decisão de não fazer mudanças deve ser examinada com o mesmo rigor de uma decisão ativa. Marks argumenta que manter tudo como está é, por si só, uma escolha estratégica — não uma forma de neutralidade.
A Nike conta com 155 fábricas operando no Vietnã. Estimativas indicam que a empresa emprega mais de meio milhão de pessoas no país. Essa força de trabalho colocaria a Nike entre os dez maiores estados dos EUA em número de trabalhadores na indústria — no mesmo nível de Carolina do Norte ou Wisconsin.
Esses números mostram o impacto das tarifas americanas. O Vietnã foi um dos países mais afetados no "dia da liberação".
O episódio “Our Kids Are the Least Flourishing Generation We Know Of” traz Ezra Klein em conversa com Jonathan Haidt sobre os desafios enfrentados pelas crianças de hoje, abordando bem-estar e desenvolvimento.
O artigo "Rewiring Silicon Valley for the World of Atoms", reflete sobre redirecionar o foco do Vale do Silício para inovações no mundo físico, além do digital, para resolver problemas concretos, como infraestrutura e energia. Embora o software tenha dominado as últimas décadas, o futuro exige soluções mais tangíveis. Me remete o mesmo assunto do livro recem lido e demais recomendado
Adam Tooze descreve o cenário catastrófico das tarifas para países como Laos, Camboja e Vietnã.
Pure Independence — Liberdade exige responsabilidade. Morgan Housel argumenta que a verdadeira independência vem com decisões difíceis. Uma leitura que mistura filosofia pessoal e finanças com leveza.
Molson Hart — empresário que já administrou fábricas nos Estados Unidos e China — escreveu uma postagem viral com 14 motivos pelos quais “os EUA subestimam em trazer a manufatura de volta”. A China tem os trabalhadores, infra e conhecimento construído ao longo de décadas para lidar com qualquer tipo de produção. Hart acredita que a melhor estratégia de reindustrialização para os EUA é focar em manufatura de alto padrão, agricultura e inovação, em vez de aplicar tarifas a todos os países e produtos de forma cega. Deveríamos tributar drones automatizados para a agricultura em 300% para incentivar sua fabricação aqui, em vez de aplicar a mesma tarifa genérica de 54% que aplicamos a camisetas.