Dizer "o mercado está errado" é mais um problema de ego do que pensamento independente.
Observe qualquer economia global. No longo prazo, cresce.
Nem sempre no mesmo ritmo. Nem todo ano. Mas cresce.
O mercado — especialmente o de ações — captura esse movimento. Quando a bolsa de valores reflete a economia, como em países com bolsa madura, o faturamento agregado dessas empresas listadas também avança. O índice que resume isso? S&P nos EUA. Ibovespa, no Brasil.
Esses índices são a média dos ativos ponderada pelos seus respectivos pesos. E quando há uma média, nosso instinto como investidor é querer superá-la. Todos querem. Mas é impossível que todos consigam.
Quando há uma média, nosso instinto é pensar que metade fica abaixo dela e outra metade fica acima.
Mas o mercado é mais cruel que isso.
Poucos ficam bem acima da média. E a maioria fica ligeiramente abaixo. A distribuição é torta, assimétrica.
Para sair dessa base inferior, você precisa pensar fora do consenso. Ser igual a maioria não serve.
Howard Marks diz: investir não é estar certo, mas estar mais certo do que os outros. Isso exige o que ele chama de pensamento de segundo nível. Independência. Clareza. Se todos já acham uma ação boa, provavelmente você pagará caro.
O pensamento de segundo nível é a habilidade de ir além do óbvio — de pensar de forma menos consensual.
Muita gente confunde sair do consenso com ir contra o consenso. Ir contra o consenso é apostar que a maioria está errada. E convenhamos, é bem difícil a maioria estar errada e você certo.
Ir contra o consenso para o público parece ousadia, mas em geral é ser pura teimosia. Dizer "o mercado está errado" é mais um problema de ego do que pensamento de segundo nível.
Sair do consenso não é necessariamente apostar contra. É pensar independente. Como disse Peter Thiel: “Você não escapa do efeito manada apostando contra a própria manada. Você escapa pensando de forma independente.”
E mesmo o consenso quando erra demora a errar. As teses da maioria resistem mais tempo do que você aguenta esperar. Sua conta quebra antes do mundo perceber o certo era você - se bem que tese certa no timing errado é tese errada.
Uma saída menos óbvia? Se mudar. Literalmente. John Templeton foi para as Bahamas. Dizia que lá o jornal Wall Street Journal chegava com atraso. Virou um dos maiores investidores da história — com esse atraso a favor.

Buffett e Munger? Moram na fronteira com o Canadá. No Nebraska. No meio do nada. A cidade mal tem estrutura para receber as 40 mil pessoas na conferência anual da Berkshire - mesmo número que a feira da XP recebe anualmente.
Em Omaha, Nebraska, depois dos dois bilionários, o maior destaque local é o tradicional sorvete de milho.
No exato fim de semana da quebra do Lehman Brothers, em 2008? Buffett curtia um resort no Alasca.
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