A segunda derivada da IA
A história é cúmplice ao mostrar que as empresas beneficiadas pela IA serão melhores investimentos que as empresas fornecedoras da IA.
Numa esquina qualquer do Itaim, SP, uma cafeteria serve café para o advogado que, sem saber, acaba de perder um processo para um software.
Não que o caso tenha sido julgado por um robô — ainda —, mas o parecer que reverteu a causa foi redigido pela inteligência artificial de uma legaltech, operando a serviço de uma startup com poucos funcionários e muitos dólares em financiamento de venture capital.
Em outra cidade, uma gerente de RH revisa o relatório de candidatos pré-selecionados para a vaga de analista. Ela não sabe — e talvez nunca venha a saber — que os três nomes no topo da lista foram escolhidos por um algoritmo de inteligência artificial que analisou perfis de LinkedIn, vídeos de entrevistas simuladas e a probabilidade de turnover. O algoritmo é só mais um plugin barato que opera em silêncio, integrado a uma plataforma SaaS vendida por assinatura a empresas de médio porte.
Esses casos são os efeitos de segunda (ou terceira) ordem da IA. E um dos muitos temas do nosso evento da Nomos em Joinville que reunimos amigos e clientes.
Vou compartilhar dois slides que resumem o que tira o sono do smart money atualmente.
Os efeitos de segunda (ou terceira) ordem da IA provocam uma reflexão sobre onde investir para surfar essa onda.
A regra não muda. Empresa boa é aquela integrada à tecnologia, independentemente do segmento. A história é cúmplice ao mostrar que as empresas beneficiadas pela IA serão melhores investimentos que as empresas fornecedoras da IA.
Senta que lá vem a história
1. Do Carvão à Elétrica
Na transição do carvão (1900) para a energia elétrica (1930), o ganho econômico não enriqueceu os fornecedores de energia eletrica tanto quanto as empresas que se beneficiaram dessa energia mais eficiente. Foram as industrias que a utilizaram como alavanca para revolucionar seus modelos de produção. Os galpões industriais ganharam espaço, pois fizeram um outsourcing (terceirização) da sua própria energia.
O valor se deslocou para a ponta criativa e adaptável da economia. Empresas como Otis Elevators, Firestone, Sherwin-Williams, Singer e Coca-Cola souberam explorar essa nova fonte de energia.
A Coca-cola quente é um remédio. Na geladeira é outro produto. As máquinas de costura da Singer entraram em todas as casas.
2. Da Carroça ao Carro
Os maiores beneficiários dessa transformação não foram os fabricantes de automóveis em si, mas as empresas que entenderam o novo mundo que os carros criaram.
Caterpillar, Walmart, Sears, McDonald’s e Marriott são companhias que prosperaram não por fabricar veículos, mas por explorar o que os veículos tornaram possível: uma economia baseada em mobilidade.
O carro permitiu o surgimento de cadeias logísticas nacionais, redes de lojas fora dos centros urbanos, motéis de beira de estrada e fast food padronizado. Ele encurtou distâncias, descentralizou o comércio e criou novos padrões de consumo. Quem antecipou esse movimento e estruturou seus negócios sobre rodas colheu os frutos.
Assim como na eletrificação, o maior valor do carro não estava no motor, mas no modelo de mundo que ele ativou.
Sobre esse tema, compartilho o slide apresentado por Warren Buffett durante a reunião anual da Berkshire Hathaway em 2021 como provocação pela pressão para o mago investir em tech - em 2021 o tema da mosa eram as ações ‘stay at home’(quarentena). O objetivo do slide foi para mostrar quantas fabricantes de automóveis nos Estados Unidos faliram ao longo do tempo, apesar do enorme sucesso da indústria automobilística como um todo.
Detalhe: o slide lista dezenas de montadoras americanas cujos nomes começavam com "Ma" e que já não existem mais — como Marmon (1902–1933), Malcolm (1900), Macon (1915–1917), entre muitas outras.
Quem foram os vencedores? Ford e GM.
Mesmo em setores revolucionários e promissores, como o dos automóveis, escolher os vencedores é extremamente difícil.
3. Da Telefonia à Internet
Não foi a Cisco, Sun Microsystem ou a AOL que multiplicaram. Lembra da Terra e do IG no Brasil?
Foi a Amazon reinventou o varejo; o eBay criou mercados de nicho baseados em confiança; a Netflix virou do avesso a distribuição de conteúdo. Inovações possíveis porque a internet era mais do que um “telefone rápido”.
E aqui chegamos a inteligência artificial.
A IA não é uma linguagem mais rápida. É uma nova linguagem. É a transição do Machine Learning para o Deep Learning.
No Deep Learning, você não recebe a resposta exata. Você recebe a resposta mais provável. Porque a liguagem lê os dados disponíveis e interpreta.
A inteligência artificial se tornou o motor silencioso por trás da vantagem competitiva de empresas líderes. No setor farmacêutico e de biotecnologia, ela acelera a descoberta de medicamentos e a personalização de tratamentos.
A Zillow usa IA para prever preços e criar descrições automatizadas de imóveis. Empresas como P&G e Nestlé aplicam IA para entender hábitos de consumo e otimizar campanhas de marketing. Na indústria de games, personagens e mundos se tornam mais realistas graças à IA generativa. A Netflix refina suas recomendações e explora a criação automatizada de roteiros. Booking e Airbnb utilizam IA para precificação dinâmica e atendimento ao cliente. Já o Walmart integra algoritmos preditivos para logística, oferta personalizada e automação de estoques — provando que, em todos os setores, a IA está deixando de ser promessa e se tornando infraestrutura invisível.
To be continued…
LINKS
Carta da IP Investimentos. “Transformamos o mundo de um lugar de escassez para um lugar de abundância esmagadora: drogas, comida, notícias, jogos de azar, compras, videogames, mensagens de texto, pornografia, Facebook, Instagram, Youtube, Twitter”. LINK
Carta Atmos. Terceira e última parte de uma série dedicada à transição energética. Nesta, a gestora analisa as limitações associadas à adoção de fontes renováveis. LINK.
Hernan Kazah, cofundador do Mercado Livre compartilha histórias de bastidores da empresa e fala do futuro desse ecossistema. LINK
Mais sobre a próxima Amazon global —> Mercado Livre. How Mercado Libre built Latin America's most valuable company: 18k engineers, 30k deploys a day, and their own fleet of planes | Sebastian Barrios.
Entrevista com Carlos Alcaraz. “Seja gentil dentro e fora da quadra”. LINK